O Último Conjurado

Havia já algum tempo que um cavaleiro solitário os seguia, escondendo-se nas sombras e ninguém parecia dar pela sua presença.
A uma dada altura, os nossos amigos saíram do coche e começaram a caminhar rapidamente, precedidos pelo criado que lhes alumiava o caminho.
De tempos a tempos, olhavam para trás, receando ser seguidos, mas nada viram de suspeito. Não se via nem ouvia vivalma.
Soprava um vento frio que abanava as folhas das árvores e as lançava ao chão, fazendo-as rodopiar. Por vezes, as estrelas ficavam ocultas por nuvens escuras, mas felizmente por breves momentos…
Aconchegaram melhor a capa ao corpo e Pedro levava a mão fincada no copo da espada, cauteloso como sempre.
Lá bem atrás, a sombra continuava a segui-los, disfarçadamente. Já não ia a cavalo.
Pouco depois, passavam pela igreja de São Domingos. Aproximaram-se do palácio de D. Antão e olharam em redor. Entraram ambos e o criado desapareceu na escuridão de uma rua.
O nosso sinistro espião conservou-se numa esquina onde podia ver sem ser visto. Os seus olhos brilhavam de excitação.
Passado algum tempo, o que viu deixou-o estarrecido. Apesar da pessoa em questão tentar esconder o rosto ao entrar no palácio, reconheceu-a.
Sentindo o coração aos pulos dentro do peito, encostou-se à parede, estupefacto.
– Meu Deus!… É o Dr. João Pinto Ribeiro, o agente dos negócios do duque de Bragança!… Que fará ele aqui?! – exclamou, perplexo. – E a esconder-se como um reles ladrão!… Só pode ser uma conspiração!… Meu pai vai gostar muito de saber disto!!…
– Talvez…, mas vossa senhoria nunca lhe dirá…
D. Manuel saltou de susto. Empalidecendo, virou-se, deparando com um vulto vestido de negro.
– Vosso pai não vos ensinou que é muito feio espiar os outros?…
– Capitão… capitão Gualdim!…
O mascarado tirou o chapéu e, galantemente, fez uma tal mesura que quase bateu com a testa no chão.
– Ao dispor de vossa senhoria…
D. Manuel desembainhou a espada, a tremer, e recuou. As últimas feridas causadas por ele ainda lhe estavam bem vivas na memória.
– Maldição! Pareceis uma alma penada!… Apareceis não se sabe donde e quando menos se espera…
O outro cavaleiro riu-se, trocista.
– Decerto não estais à espera de escapar, pois não…?
O fidalgo estremeceu. Nisto, deu meia volta e correu, mas poucos passos andou sem que lhe surgisse à frente o seu inimigo, de espada em riste. Sem o conseguir evitar, viu-se a terçar espadas com ele.
Sabedor da perícia do adversário, não tentava nenhuma investida, limitando-se a defender as suas prodigiosas estocadas, que o deixavam sem pinga de sangue a cada uma que conseguia defender.
Não haviam passado dois minutos e já ele fora ferido no antebraço esquerdo. Pálido como um morto, não sabia como se desenvencilhar dele.
De repente, um mocho em voo piou mesmo sobre as suas cabeças, sobressaltando Gualdim que descurou a defesa por segundos. Aproveitando aquele rasgo de sorte que o destino lhe proporcionara, D. Manuel lançou-se sobre ele, decidido a feri-lo mortalmente no coração. Mas, rápido como um relâmpago, Gualdim virou-se mesmo a tempo e aparou-lhe o golpe com tanta violência que o fez desequilibrar-se. Para não cair, agarrou-se ao que estava mais à mão: a máscara do espadachim. Viu-se com ela na mão, pasmado…
Levantou os olhos, abismado, sem poder acreditar na sua sorte. O que viu deixou-o tão assombrado, que cambaleou, com uma expressão de terror no rosto, sem querer acreditar no que os seus olhos viam.
– Sois vós!?! Meu Deus!!!… Não é possível!!…

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