Nisto, algo lhe provocou estupefacção. Por cima da lareira, um quadro a óleo de uma jovem, com um braçado de flores silvestres, sorria-lhe, um sorriso feliz e amoroso.
Era ela própria!… Fora pintado na altura que começara a namorar o preceptor Fontes. Seria o presente do fidalgo para o sobrinho Eduardo. Depois acontecera aquela tragédia e o pai nunca mais quisera o quadro, pois dizia que quem o visse perceberia que ela estava apaixonada pelo preceptor. Parecia-lhe escrito no rosto, como repetidas vezes dizia. Ana também não o quis, pois recordava-lhe momentos muito tristes, que não queria recordar. Bastavam-lhe os seus pensamentos e recordações…
Fixava o retrato, que nunca vira terminado, de boca aberta, sem saber o que pensar. Aquela jovem e bonita Ana que tinha diante de si, vestida de azul-turquesa e o cabelo caído nos ombros, em caracóis, parecia-lhe tão longínqua e tão feliz… Tinha a plena convicção que nunca mais sorrira assim, com toda aquela alegria e prazer.
Naquele instante, ouviu passos abafados no corredor e um homem vestido de azul claro entrou, ficando especado à entrada da sala, com um olhar misto de amor e saudade.