Nuno Álvares Pereira

Pouco depois já havia grande alvoroço.
A chegada de Nuno Álvares viera desassossegar toda aquela gente. O seu espírito irrequieto e sedento de acção não conseguia conceber a hesitação em se tomarem medidas drásticas para afastar o perigo. Não entendia por que tanto tardavam, porque esperavam para agir.
– De que estamos à espera? Temos de estar preparados para fazer frente ao rei castelhano! Não é parados que resolvemos as coisas! Precisamos tomar o castelo!
Um dos fidalgos olhava-o como se pensasse que ele tivesse enlouquecido de repente, fosse um completo doido varrido.
– Mas não vedes o perigoso obstáculo que é o castelo de S. Jorge, D. Nuno Álvares? Ele ainda é pela rainha.
– Que obstáculo? Os obstáculos são para serem destruídos ou desviados! – replicou ele, com um certo desdém. – Por que esperam para o arredar definitivamente do nosso caminho, se é por ele que tardam em agir? Vamos a ele!
– Calma, D. Nuno. Temos de ter calma e prudência. Há muita gente no castelo, toda ela afeita à rainha. Além de que estão muito bem guarnecidos, como bem sabeis – lembrou Álvaro Pais, com ar apreensivo.
– Qual quê! Têm lá gente dentro, mas também há muita cá fora! Pois vou agora tomar o castelo! Quem quiser que me acompanhe1
Todos ficaram a olhar para ele assombrados e ao mesmo tempo alarmados.
– Que dizeis D. Nuno Álvares?
– Só podeis estar a brincar, com certeza…
– Não podeis tomar de ânimo leve tal cousa. A tomada de um castelo tão bem guarnecido de homens e abastecido de munições… – observou um, quase indignado.
Nuno olhou-os, em ar de desafio.
– Ah, não? Pois então vejam!
E voltou-lhes as costas, começando a descer a escada, decidido e com um sorrisinho nos lábios. Via-se bem que aquela gente, aqueles doutores, aqueles burgueses pacatos e prudentes, não o conheciam minimamente.
D. Martim correu atrás dele, divertido com a expressão perplexa que estava estampada em todos aqueles rostos.
Um homem magro voltava-se agora para Rui Pereira.
– Rui Pereira, vosso sobrinho não falava a sério, pois não?
Rui Pereira sorriu.
– O mais seriamente possível, D. Álvaro. Meu sobrinho não é homem de dizer uma coisa que não cumpre.
O homem deitou as mãos à cabeça.
– Vai ser um desastre!
– Mas ele só pode estar louco! Vão matá-lo!…
D. João sorriu, divertido.
– Não, vão, não, pois eu não deixo!
E poisou a mão no punho da espada, seguindo os outros dois.
– Mas, D. João, onde ides? – perguntou outro, perplexo.
– Acompanhar o meu amigo na tomada do castelo de S. Jorge. Era dele que estávamos à espera para dar um empurrão em todos nós. Da sua decisão! – declarou, voltando-se para trás e dando uma gargalhada, deixando toda aquela gente de coração nas mãos.

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