Ana parou e deitou um olhar cauteloso em volta. Não se via vivalma. Felizmente não havia luar. Estavam a coberto de uma quase completa escuridão, criada pelas nuvens escuras que, de tempos a tempos, tapavam o quarto crescente da Lua.
O alemão enlaçou-a pela cintura e apertou-a bruscamente contra si, fazendo-a sentir o seu corpo, orgulhoso.
Os olhos de Ana Luzindra brilharam de modo estranho e de dentro do xaile retirou uma lâmina fina que brilhou no escuro.
Num movimento rápido, espetou-lho no peito e o homem gemeu, perplexo. Os seus olhos brilharam de ódio, apercebendo-se então do brilho ameaçador dos dela. Tentou levar a mão à cintura, mas ela voltou a esfaqueá-lo, empurrando-o depois com toda a força, fazendo-o desequilibrar.
Sem saber como, viu-se a cair no espaço, desamparado, agarrado ao peito de onde sentia dores atrozes. Depois caiu pesadamente em cima de uma rocha pejada de uns cactos floridos.
Ana Luzindra correu encosta abaixo, com uma rapidez espantosa e só parou diante dele. O seu rosto estava muito corado.
O soldado não se mexia. Debruçou-se sobre ele para se certificar de que estava morto antes de lhe tocar.
Subitamente, ficou sem pinga de sangue. O homem fincara-lhe uma mão em forma de garra no pescoço, valendo-se das últimas forças que lhe restavam. Ana tentou libertar-se daquela mão poderosa, mas não conseguia. As unhas dele cravavam-se na sua pele, dolorosamente.
Quase sem conseguir respirar, retirou o punhal de dentro do bolso do avental e cravou-lho no tronco, de lado, arrancando-lhe um grito de dor lancinante que lhe pareceu que teria sido ouvido bem longe. O homem libertou-lhe o pescoço e ela aproveitou para lhe dar o golpe de misericórdia, apunhalando-lhe o coração.
Depois sentou-se, sem forças, com o coração a bater desordenadamente. Sentia-o na garganta. Aquele soldado tinha sido bem mais difícil de matar do que os anteriores, fazendo-lhe vir à memória as palavras de António Enjeitado.
Só no fim de ter retomado o fôlego é que se levantou, mas tinha as pernas a tremer.
Nisto, estremeceu. Pareceu-lhe ouvir barulho vindo de cima. Encostou-se para trás o mais possível e segundos depois via uma cabeça a espreitar, cautelosa, semicerrando os olhos para conseguir ver alguma coisa na escuridão.
— Está aí alguém? — perguntou a voz em alemão.